O Trabalho em Casa
Desde que surgiu o Home Banking e os investimentos pela internet, permitindo emissão de cheques, transferência de valores e negócios com ações sem sair de casa, o mundo do trabalho quase virou de pernas para o ar: Por exemplo, no Brasil já é possível fechar um contrato usando a assinatura digital, algo impensável há alguns anos. A assinatura digital já foi regulamentada pelo Banco Central, inicialmente para contratos de câmbio, mas futuramente ela fará parte do dia-a-dia da administração pública e privada. Uma instituição chamada Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) funciona como um grande cartório eletrônico, em que a empresa interessada pode ter uma chave criptografada que passa a ser sua assinatura digital. Por meio de um chip fornecido pelo Banco do Brasil, é possível assinar um contrato eletronicamente, em qualquer lugar que a pessoa esteja.
Essas são as inovações do mundo bancário. Já entre as novidades na área de relações humanas surge o trabalho a distância em empresas de todos os tipos e tamanhos. O que faz emergir uma nova categoria de profissionais: os teletrabalhadores. Em território brasileiro eles já são 4,5 milhões, conforme uma pesquisa realizada em 2005 pela Sociedade Brasileira de Teletrabalho (Sobratt). Há ainda uma tendência de crescimento de 20% ao ano desses profissionais brasileiros que trabalham em casa usando computador, telefone, fax, secretária eletrônica, celular e notebook.
Mas nem todos têm perfil para trabalhar a distância. Em declaração ao jornal O Globo (20/ I 1/2005), o vice-presidente da Sobratt, Álvaro Mello, disse que esse novo profissional precisa ter iniciativa,disciplina e forte senso de responsabilidade. Ele destacou que quem trabalha com metas e prazos está mais apto para o trabalho virtual. E que algumas profissões são mais adaptáveis, como por exemplo informática, administração, jornalismo, publicidade, marketing, vendas, direito, engenharia e arquitetura.
Segundo Marcos Cavalcanti, num certo momento se pensou que a maioria das pessoas iria ficar trabalhando em casa, isoladamente. "Mas essa idéia foi abandonada, pois é preciso também haver interação, olho no olho. O que cresce no mundo todo é exatamente o trabalho com horário mais fiexível no qual as pessoas, por meio da tecnologia, podem interagir com grupos de pessoas."
Assim, é natural que o teletrabalhador vá à sede da empresa e às reuniões em horários programados. Quando isso acontece, esses encontros se tornam, geralmente, mais objetivos e alegres. Além disso, muitas pessoas que vemos telefonando com celulares na rua, na praia, são teletrabalhadores sem que se saiba. Por quê? Porque para elas o trabalho e o tempo livre já são uma coisa só, totalmente entrelaçadas.
Há casos também de pequenos empresários que, para reduzir despesas e deixar de pagar o aluguel de um escritório, optam pela empresa virtual. Quer dizer, a equipe de trabalho permanece, mas cada qual em sua casa trabalhando via internet. É evidente que isso acontece com mais freqüência em empreendimentos cujo trabalho tenha a ver com tecnologia da informação. Nesses casos, o empresário tem o controle das atividades realizadas por todos, por meio de um software de gestão de trabalho a distância, ou seja, um software que delega poder de decisão, controla a execução das tarefas e distribui documentos.
Nem por isso devemos esquecer do tradicional home office, adotado bem antes da facilidade de acesso à internet. O escritório em casa, instalado por profissionais de setores liberais de contabilidade, de confecção, de cosmética, de diversos tipos de franquias etc. e que ainda funciona, desde que haja organização, planejamento e controle do trabalho, A falta de computador; inevitavelmente, favorece a concorrência, Queira-se ou não, trabalhar sem computador hoje significa competir no mercado com uma ferramenta a menos.
Seja qual for a situação, quais as vantagens do trabalho em casa? De um modo geral a resposta costuma ser a liberdade de administrar melhor o tempo, ter mais disponibilidade para a faml1ia e outros compromissos. Além de fazer economia em alimentação, vestuário, transporte, aluguel de escritório. Desvantagens: perda de privacidade, isolamento profissional, menos infra-estrutura e apoio logístico, Mas há também outra causa para o aumento desse tipo de trabalho que não tem tanto a ver com vantagens e desvantagens: a diminuição (alguns diriam até mesmo o desaparecimento gradativo) do emprego de carteira assinada.
E nesse cenário ainda se esboça uma outra tendência: a superespecialização e a dedicação exclusiva a uma só atividade ou empresa - tão desejadas há algumas décadas e que foram pilares do modelo japonês de administração - estão sendo superadas, Hoje, são mais valorizadas qualidades como versatilidade e capacidade de adaptação.
A lógica é a seguinte: é mais útil contar com um profissional com capacidade para resolver problemas imprevistos, com boa dose de improvisação e de humor; do que ter um trabalhador que só funciona dentro de um sistema que ele já conhece, ainda que seu conhecimento seja bem profundo. Nesse sentido, alguém que lide bem com relações humanas e saiba administrar e liderar com maturidade e bom senso pode ser mais útil do que um grande conhecedor de uma certa atividade, mas que tenha gênio complicado e dificuldades em se adaptar.
